Grupo Afro Lata: uma mistura de música, cidadania e sustentabilidade


Por Liliane Oliveira

Acha difícil unir música, cidadania e sustentabilidade em um único projeto? Para os fundadores e integrantes do grupo Afro Lata que existe há 9 anos no bairro São Benedito, em Juiz de Fora, essa união é algo consolidado. A iniciativa faz parte das atividades socioculturais desenvolvidas pela ONG Afro Lata Expressões que, além do grupo de música, oferece também aulas de teatro, dança, apoio psicológico, pedagógico e de assistência social para cerca de 200 pessoas que moram no bairro.
O grupo se reúne na sede da ONG para ensaiar (Foto: Liliane Oliveira)
 
O grupo Afro Lata conta com cerca de 25 participantes, divididos entre percussionistas, vocalistas e bailarinos. Que se reúnem de duas a três vezes por semana para ensaiar, aprender e se divertir. O Diretor Executivo da ONG, Daniel Campos, fala sobre o que motivou a criação do grupo: “O principal objetivo, tanto da ONG quanto do grupo sempre foi proporcionar às crianças e jovens da comunidade uma opção saudável de lazer e conhecimento, longe das ruas”. Para que esse trabalho seja realizado a ONG conta com a ajuda de 15 voluntários de diferentes áreas de conhecimento e parcerias com instituições. Nesses anos de trabalho, o diretor contabiliza que a ONG tenha beneficiado diretamente cerca de 5000 jovens e adolescentes.
O repertório do Afro Lata recebe influências brasileiras e também internacionais como conta a percussionista e vocalista Vanessa dos Santos: “a gente procura trabalhar a música brasileira interpretando desde sambas do Noel Rosa até o axé que vem da Bahia. Mas como a música brasileira é uma grande mistura, o repertório acaba sofrendo também influências internacionais, por exemplo, músicas africanas e latinas com ritmo mais marcado.” O grupo costuma se apresentar em eventos na própria comunidade, em festivais promovidos em Juiz de Fora e também durante a programação do carnaval nos blocos de rua.

A ONG atende crianças e jovens entre 07 e 23 anos (Foto: Liliane Oliveira)

Além da preocupação com o repertório, o Afro Lata também se preocupa com o meio ambiente. O tema sustentabilidade é trabalhado com os participantes do projeto, e todos os instrumentos utilizados pelo grupo são feitos de materiais recicláveis. A integrante Ana Paula Freitas, que está no grupo há 7 anos, explica como é feita a escolha dos materiais: “Usamos qualquer material reciclável que dê pra tirar um som legal, pode ser lata, tambor, plástico ou galão. As pessoas da comunidade costumam guardar e trazer pra gente aproveitar, a escola aqui do bairro também sempre doa material. Depois que a gente recebe é só selecionar e usar."
Em junho de 2014 o grupo completará 10 anos e os preparativos para a data já começaram. Uma apresentação em parceria com o Teatro Pró-música será o principal evento realizado pelo Afro Lata durante as comemorações. Existe também uma proposta de expandir o projeto para outras regiões da cidade, porém essa é uma decisão que requer recursos, como analisa a presidente e coreógrafa do grupo, Francieli Alves.  



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Vai fazer o que terça a noite?

  
Por Liliane Oliveira 

Aqueles que pensam que só nos fins de semana é possível curtir música boa em Juiz de Fora, estão muito enganados. O projeto “Terças Musicais” do Pró-Música dá vida ao início da semana juizforana com música de qualidade, e o que é melhor, gratuitamente. Além de promover a cultura local e dar oportunidades para os artistas, uma particularidade do projeto é disponibilizar a infraestrutura de som e luz do teatro Pró-Música para os artistas participantes e oferecer todo o suporte de divulgação. Os artistas ainda recebem um cachê simbólico.

Caetano Brasil em ensaio no teatro Pró-Música 
(Foto: Liliane Oliveira
A iniciativa existe desde a década de 80, mas tinha um formato diferente. Nos últimos dez anos o projeto assumiu o formato de edital, como conta o vice-presidente do Pró-Música Júlio César de Souza. “Esse projeto talvez seja o primeiro em Juiz de Fora que tenha sido colocado à disposição da classe artística através de edital público. Ele oferece a oportunidade da realização de oito shows, são sempre quatro no primeiro semestre e quatro no segundo. A seleção é feita, no meio cultural de Juiz de Fora, todos os estilos musicais são aceitos, pode ser samba, rock, MPB, exceto música erudita. É o único projeto da instituição que não é voltado para música erudita.”

A apresentação mais recente do Terças Musicais foi com Caetano Brasil & Grupo, que levou para o palco o som da wordmusic. “É uma tendência contemporânea que permite trabalhar várias influências musicais sem se prender a nenhuma delas” afirma o artista.  O repertório do grupo contou com influencias do choro, jazz, ritmos brasileiros e temas de grupos étnicos espalhados pelo mundo. Para Caetano o projeto movimenta o cenário musical da cidade.

Rick Souza em seu ensaio diário, (Foto: Liliane Oliveira) 
O músico Rick Souza, já participou do projeto e  considera fundamental para a valorização dos artistas de Juiz de Fora iniciativas como esta.  “Eu me apresentei no terças no ano de 2009 com um trio de cordas, nós tocamos MPB e foi uma
experiência enriquecedora. Porque o projeto promove a valorização do músico local, o que não acontece em outros projetos. A cidade tem uma variedade muito grande de profissionais que muitas vezes não têm espaço”.

A carreira do músico Fabrício Conde se confunde com a história do Terças Musicais. “Desde que fiz a primeira apresentação já se passaram quase dez anos. Fiz três apresentações neste projeto. Na primeira vez toquei acompanhado por um grupo de cinco músicos e eu estava lançando o CD Viola da Mata. Na segunda vez toquei sozinho e lancei o CD Viola Brasileira. Na terceira vez toquei acompanhado por um músico e lancei o DVD Âncora.” Conta o músico.

Fabrício também considera o projeto muito importante para o meio artístico local e defende que é um espaço fundamental para que a cidade conheça o trabalho de seus artistas. “É muito importante para o desenvolvimento de Juiz de Fora que haja espaços que viabilizem o fazer artístico, a troca de vivências culturais e que nestes espaços nós artistas consigamos expor o nosso trabalho com a dignidade justa. Cada trabalho artístico precisa de um meio correto para se expressar, nem toda música cabe numa praça ou bar, como nem toda música cabe num teatro. No caso do Terças Musicais podemos montar um repertório que possibilite ao público uma experiência de contemplação e talvez transformação.”


Fabrício Conde. (Foto: Divulgação)

Apesar de toda a divulgação existem muitas pessoas da cidade que não tem conhecimento dos shows, mas ainda assim o público é fiel, já os artistas valorizam muito o projeto. Segundo o vice-presidente do Pró-Música Júlio César de Souza o número de artistas que se inscrevem no edital é satisfatório, “nós oferecemos 8 vagas e geralmente temos de 35 a 40 inscritos, o que prova que Juiz de Fora tem uma produção musical bem expressiva”. O último show do projeto esse ano será no dia 19 de novembro  às 20h com a banda Dorandinos que fará uma apresentação integralmente autoral chamada “Rosa dos Ventos”, os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na bilheteria do teatro Pró-Música.





Ficou interessado em participar do Terças Musicais? Saiba detalhes do edital, datas e critérios de escolha dos participantes.

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Além dos palcos

Por Liliane Oliveira

Formar uma banda com os amigos já foi e ainda é o grande sonho de muitos jovens e adolescentes. Muitos deles até conseguem juntar uns amigos pra tocar e fazer uns shows por algum tempo, mas poucos conseguem se firmar em um mercado tão instável. Em uma cidade de porte de médio como Juiz de Fora, essa tarefa se torna um pouco mais difícil, mas não impossível. Existem muitas bandas da cidade que resistem ao tempo e ás dificuldades da carreira.

Eminência Parda (Reprodução do Facebook)
Um  exemplo de sucesso é a banda Eminência Parda, que está na estrada há 27 anos e conseguiu conquistar seu lugar no cenário musical de Juiz de Fora, com sua mistura de MPB e rock. Segundo o vocalista da banda, Edson Leão, essa trajetória não foi marcada só pelo sucesso.  “A Eminência passou por quase todas as dificuldades que uma banda poderia passar, a começar por essa estória de ter começado sem grana do zero, sem equipamento. Na época eu estava muito ligado no espírito do punk que tinha o lema ‘Do it yourself’, a gente começou na base do faça você mesmo.”

O primeiro disco da banda composto por músicas autorais foi um dos desafios, conta o vocalista Edson Leão. “Quando gente lançou o primeiro CD, era o primeiro CD da cidade e da região, ninguém sabia fazer aquilo. Descobri contatos em BH porque não existiam estúdios legais aqui, e fomos para lá gravar. A gente juntou dinheiro de cachê durante dois anos para gravar esse CD, e vendeu vale CD pra pagar o que faltou. O fato de estar em Juiz de Fora e não em grandes centros como Rio, São Paulo e Belo Horizonte, não criava muitas oportunidades concretas.”

Banda Operação Tequila (Reprodução do Facebook)
Outro exemplo, é a banda Operação Tequila que tem 16 anos de experiência na cidade e região, e também passou por alguns problemas até se firmar. O vocalista Rodrigo Andrade conta que as dificuldades são basicamente as mesmas enfrentadas por todas as bandas. “Muitos ensaios, poucas oportunidades, cachês baixos além do fato do público não nos conhecer, mas com o tempo, tudo isso foi mudando, felizmente.” O som do pop-rock da Operação Tequila conquistou o público e hoje toca nas principais casas de show da cidade.

E mesmo com tantos anos de experiência as bandas não deixam de trabalhar para manter o espaço conquistado. Segundo Edson Leão, “a vida artística é uma vida de instabilidade e em Juiz de Fora não é diferente, nunca a gente pode pensar que estamos com vinte e tentos anos de estrada e o trabalho está consolidado. Você é sempre um iniciante, um iniciante com nome e experiência”. A internet e as redes sociais se tornaram aliadas para manter esse ‘contato’ com o público.


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